terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Caminhos Vazios [2]

Vamos lá, segunda parte do meu conto Caminhos Vazios.

2. Memórias que Virão

Ele tentou abrir os olhos, ainda meio grudados. Nada via. Nada adiantou. Esfregou as palpébras desesperado. Estava cego?
- Acalme-se - ele ouviu uma voz feminina mas rouca, ao seu lado.
- Que droga é essa? - ele disse.
- Você foi encontrado desacordado na entrada de nossa cidade. Uma das irmãs me avisou e mandei que buscassem-no - ouviu passos ao redor dele. Passos de uma pessoa anciosa.
Ela continuou.
- Parecia estar muito maltrapilho, por isso lhe trouxemos à Casa da Benção. Cuidamos de lhe dar banho, cortar os cabelos e trocar as vestes - então, pensou. Me diga, há quanto tempo não voltava à civilização?
O homem tentou levantar-se, mas seus pés estavam presos. Pela sensação, deveriam ser fibras muito grossas de couro animal. Sacolejou tentando escapar, mas estavam realmente presos. Não queriam que ele saíssem dali. Levou as mãos desesperamente às tiras de couro e puxou violentamente inúmeras vezes, até que a voz voltou a entoar naquele quarto escuro e pequeno:
- Quanto mais se mexer, pior. Acalme-se.
Realmente era pior. Quanto mais puxava, percebia que seu pé ia ficando formigando mais e que ele ia perdendo a sensibilidade neles.
- Okay - disse, finalmente. Porque me trouxe aqui? Tenho mais o que fazer do que ficar trancado num local como esse. Meu caminho é muito longo, e o tempo curto.
- Simples, muito simples - disse ela, num tom agora mais alegre, porém mais cruel. Preciso primeiro confirmar uma coisa - sua voz se tornou mais próxima da orelha do andarilho - seria você sir Kewl Bergur?
Irritado e incomodado com as fibras de couro torturantes, seu cérebro dava voltas. Imagens diversas de sangue, cabeças rolando, cavalos, guerra e areia lhe piscavam mentalmente. Kewl Bergur... seria...
- Sim, já o fui - respondeu, em um tom pensativo.
- Isso facilita muito as coisas - ela andou mais pelo quarto, e com dois tiques, acendeu um pequeno lambião e carregou-o pela alça até centímetros da cabeça de Kewl. O rosto dela era cheio de rugas e cicatrizes, tão mais que ele. No topo da cabeça, um chapéu quadrado, com um brasão de um lagarto amarelado ao redor de um escudo vermelho. Suas vestes longas eram negras, e nas mangas sobravam dobras de tecido. Nos dedos, dúzias de anéis dourados.
Depois de analisar o rosto de Bergur uma terceira vez, ela voltou a falar.
- Já ouvi falar muito do senhor. Pelas colinas de Lihur, pelas lagoas azuis de Gutkürp e pelos campos de Fährl. Por toda terra sua lenda ecoa. Esperava encontrá-lo galgando com seu belo cavalo ao topo de uma montanha nevada, ou reinando em algum castelo fascinante. Vejo que me enganei.
- Como já disse, não o sou mais - repetiu.
- Pode falar como quiser, mas o corpo e a mente ainda são os mesmos, e provavelmente os poderes também...
Ela agarrou a mão de Kewl com gestos de possessão, observando-a com cobiça. Ele logo a puxou de volta.
- Se quer ter certeza se ainda tenho forças, me deixe aqui preso por mais tempo.
- Vejamos o que ainda faz, meu rapaz - duvidou a velha misteriosa.
Dizendo isso, ela abaixou o lambião e foi em direção a parede. Deu dois toques leves no que deveria ser uma porta, e ela se abriu. Ela passou, apagou a chama e trancou a porta novamente. Tudo voltou a ser escuridão.
- Será? - pensou sozinho novamente Kewl.
Sentou-se na sua cama de madeira podre e começou a concentrar nas mãos. Murmurou algo, tocou três vezes a parte interna da mão direita. Então, todas as suas energias do corpo foram fluindo para sua mão aquela mão, de uma forma azul luminosa. Ela foi se iluminando, e logo havia uma pequena chama vermelha, assim revelando uma tatuagem curiosa na palma da mão de Bergur.
Logo a pequena luz se tornou uma bola de fogo do tamanho de um pêssego, depois de uma laranja, e finalmente era tão grande como um côco. Ele admirou sua magia tão bem executada, depois de anos sem realizá-la. Enfim, contente pelo seu feito, preparou sua mão por trás do ombro como fosse para um impulso, juntamente com a bola enérgica e mirou nas tiras de couro enfeitiçadas que o prendiam. Em seguida, lançou-a.

Um comentário:

  1. Uia *-*
    A história está ficando boa!
    Esse símbolo na mão dele me lembrou Full Metal (A)
    Adorei como você usou as frutas pra descrever a bola de fogo ^^'
    Continua que está ótimo isso aqui =D

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